Chamada e manifesto das mulheres e os povos das Américas

A resistência das mulheres e dos povos possibilitará que a mãe terra e a vida humana se preservem para sempre.

Chamada e manifesto das mulheres e os povos das Américas

Vigília em Barrancabermeja

A resistência das mulheres e
dos povos possibilitará que a mãe terra e
a vida humana se preservem para sempre.


A Colômbia se vestiu de rostos de mulher, rostos de meninas e crianças, de rostos de homens; os rostos dos povos, que cheias e cheios de esperanças, sonhos, experiências, lutas e resistências, participamos chegadas e chegados da Argentina, do Paraguai, do Brasil, do Peru, do Equador, da Venezuela, de el Salvador, Honduras, Haiti, da Guatemala, Cuba, do México, dos Estados Unidos, do Canadá, Espanha, da França, da Itália, da Bélgica, da Alemanha; como também dos cantos da Colômbia, seus departamentos e regiões de Nariño, Cauca, Vale, Huila, Chocou, Antioquia, Tolima, Cundinamarca, Bogotá, Magdalena meio, Bolívar, Santander, Norte de Santander, Arauca, Atlântico; para participar decida e alegremente no Encontro Internacional de Mulheres e Povos das Américas contra a Militarização desde 16 ao 23 de agosto.

Este encontro vê hoje mais que nunca como a ameaça de guerra mundial ressoa e se impõe já em diferentes geografias e a humanidade está na encruzilhada de sua sobrevivencia e a de outras formas de vida ainda existentes. Este encontro se realiza em um momento no qual o imperialismo norte-americano está desenhando e executando estratégias agressivas de recolonização para se reposicionar e tratar de recuperar a grande crise de seu sistema capitalista. O despojo das riquezas dos povos e a violação aos direitos humanos de mão da militarização são o caminho que definiram, utilizando para isso os meios de comunicação em massa como o amarre ideológico e cultural.

A Colômbia é um extenso território com riquezas minerais, petróleo, fontes de energia, água, biodiversidade, flora, fauna, saber tradicional e ancestral dos povos indígenas, pretos e camponeses; hoje muito cobiçados e explorados pelas empresas transnacionais que só se interessam por seus vergonhosos e inumanos ganhos, para o qual encorajam e fortalecem estes processos de militarização, guerra, desarraigo, despojo e morte daninhos aos povos e seus territórios; esta lógica dominante estendida e aplicada em toda nossa a América.

O país está conformado por uma grande diversidade de povos indígenas, afrodescendentes, mestiços, comunidades camponesas e povoações urbanas cansadas da guerra e a violência que afeta ao país há mais de 50 anos e que causou quatro milhões e meio de deslocadas e deslocados e milhares de pessoas assassinadas, desaparecidas e presas. Estas comunidades e povos resistem de maneira valente e criativa, através de processos de soberania de corpos, territórios e alimentos; se afirmando nas suas próprias e diversas identidades organizativas, culturais, espirituais; propondo como eixo a unidade e a busca e implementação da vida digna, a autonomia, autodeterminação e soberania.

As mulheres, protagonistas destes processos, foram e seguem sendo a fortaleza de seus povos apesar de seguir recebendo o impacto direto da violência, a pobreza, a exclusão e a discriminação, que no caso dos conflitos sociais, políticos, econômicos e armados significa exploração, miséria, violações sexuais, violação de sua liberdade sexual, e a outros direitos humanos básicos, implementando também o desarraigo, a perseguição e a morte.

O encontro possibilitou que se organizassem missões humanitárias de solidariedade para diferentes regiões do país, que permitiram o intercâmbio de experiências, vivências e reflexões entre as pessoas participantes, as mulheres, os povos, as comunidades rurais e urbanas colombianas. Nestas visitas se pôde não só entender a realidade concreta mas dar-lhe rosto e nomes a que enfrentaram o projeto da militarização e a resistência nos seus territórios e vidas cotidianas, também os interesses econômicos e geoestratégicos que se defendem. Esta oportunidade permite à comunidade internacional continuar denunciando a terrível violação aos direitos humanos, que na Colômbia adquire níveis de perversão em práticas como os falsos positivos, que são vinculações de pessoas inocentes com elementos que justifiquem o assassinato, e carceragem, o desaparecimento forçada, e deslocamento com o que se demonstra que neste país não se está vivendo o pós conflito, como hoje o assegura o governo.

Durante dois dias foram trocadas experiências de resistência das mulheres e dos povos da Colômbia e o continente; se denunciou o impacto da militarização; se reafirmou a convicção que estamos cansadas e cansados da opressão, a exploração e a cultura da morte do capitalismo patriarcal e racista.

Desde este encontro, no ânimo coletivo de justiça, respeito e solidariedade continental falamos ao mundo para reiterar nosso compromisso como mulheres e povos contra a militarização, e nos posicionamos para:

Lutar por justiça para as mulheres e que se pare a violência, a intimidação, o controle e a utilização das mulheres como botín de guerra.

Rejeitar com energia a estratégia imperialista dos Estados Unidos para militarizar as vidas, territórios e desejos que procura controlar as riquezas dos países e as consciências. Dizemos Fora Bases militares ianques da América Latina e do o Caribe.

Rejeitar a presença de bases norte-americanas em nossos países e territórios exigindo sua retirada imediato.

Lutar contra a ingerência de exércitos de ocupação como a MINUSTAH em Haiti.

Lutar pelo fechamento das bases militares em toda nossa Abya Ialá, contra os megaprojetos de energia, exploração petroleira, minerária, a privatização da água, e o despojo de territórios que favorecem hoje às grandes empresas transnacionais.

Rejeitar a ameaça iminente intervenção militar na Costa Rica com mais de 7000 efetivos militares e 46 navios de guerra dos Estados Unidos.

Rejeitamos as tentativas de desestabilizar o governo legítimo e as provocações reiteradas contra o povo da República Bolivariana da Venezuela.

Reiterar nossa solidariedade com a resistência nacional de Honduras, aglutinada no FNRP, que enfiam sua política e ação para o projeto de refundação nacional, e no imediato a uma convocação de Assembléia Nacional Constituinte Popular e Democrática por isso chamamos também aos governos estados e povos do mundo a não reconhecer o regime de Porfirio Lobo, quem é o continuador do golpe de estado e das políticas de violação aos direitos humanos contra o povo hondurenho que se mantém em luta.

Repudiar a criminalização da luta dos povos que significa morte e repressão contra mulheres e homens e seus processos organizativos.

Rejeitar a política anti imigrante que hoje se impõe nos os Estados Unidos fortalecendo a luta contra o muro.

Rejeitar a nomeação de Alvaro Uribe Vélez para a comissão de inquérito pelo crime cometido com as brigadas de solidariedade com o povo palestino pelo governo israelense.

Continuar na luta pela liberação dos cinco irmãos cubanos hoje presos injustamente em prisões dos Estados Unidos.

Respaldar à ação na República do Congo da Marcha Mundial de Mulheres para o dia 17 de outubro.

Acolhemos no dia 10 de dezembro como o dia de luta continental contra as bases militares estrangeiras.

Acolhemos o manifesto da Assembléia dos Movimentos Sociais no IV Fórum Social das Américas realizado no Paraguai. Igualmente ao manifesto no I e II encontros hemisféricos contra a militarização Chiapas e Honduras.

Nos comprometemos a dinamizar e impulsionar o IV Encontro continental hemisférico contra a militarização.

Nos vinculamos à campanha contra a militarização que se articula continentalmente.

Para o caso colombiano chamamos e propomos ao continente já ao mundo:

Manter firme a proposta de solução política e negociada ao conflito social e armado interno que tem a Colômbia.

Fortalecer e reconstruir os movimentos sociais como sujeitos políticos fundamentais para a paz

Impulsionar, dinamizar e apoiar a corte mulheres e de povos desde o local, regional nacional e internacional na recuperação da memória pela verdade, a justiça, a reparação e a não repetição.

Incentivar a unidade, o fortalecimento da conscientização, a organização, a comunicação alternativa e a mobilização como elementos importantes de autonomia luta e resistência.

Participar e acompanhar a realização do congresso dos povos convocado desde a Minga nacional de resistência social e comunitária para os dias 8 a12 de outubro de 2010.

Hoje reafirmamos nosso compromisso pela vida digna, a defesa de nossos territórios, a soberania, autonomia, autodeterminação, cultura e ancestralidade como movimentos sociais entendendo que a luta contra a militarização e as bases militares é um pilar fundamental para a paz.

Meu corpo é minha casa
Minha casa é meu território
Meu território é minha pátria
Minha pátria é meu continente.

Colômbia, Barrancabermeja, 23 de agosto de 2010

Fonte: Marcha Mundial das Mulheres

Vídeo "Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres"

O vídeo "Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres", que traz os dez dias da marcha que marcou a realização da 3ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil, já pode ser assistido pela internet, no canal da MMM no youtube, em seis partes (leia o tutorial e baixe o vídeo na sequência).

Dirigido pela documentarista Aline Sasahara, o documentário de 40 minutos mostra as mais de duas mil mulheres que, vindas de todos os estados do Brasil, realizaram a caminhada entre as cidades de Campinas e São Paulo, de 8 a 18 de março de 2010. Fazem parte do vídeo a marcha, a formação, a infra-estrutura, o funcionamento das equipes, a batucada, os movimentos parceiros e muito outros momentos dessa Ação que marcou profundamente não só a vida das caminhantes, mas a história do movimento feminista brasileiro e mundial.

Tutorial para baixar vídeos do youtube:

1) Baixe no link o programa Orbit nesse link: http://www.baixaki.com.br/download/orbit-downloader.htm
2) Instale o Orbit e acesse os links referentes ao vídeo documentário “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!”, clique em play, quando o vídeo for carregar clique com o botão direito do mouse em cima do nome do vídeo e vá na opção capturar vídeo pelo Orbit.
3) Escolha o lugar onde você quer salvar e vídeo e pronto você já tem uma cópia do vídeo.

Vídeo documentário "Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!" - Parte 01: http://www.youtube.com/mulheresemmarcha#p/f/0/kc3LSJ21yzA
Vídeo documentário "Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!" - Parte 02: http://www.youtube.com/mulheresemmarcha#p/f/5/ed_rGf1jolY
Vídeo documentário "Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!" - Parte 03: http://www.youtube.com/mulheresemmarcha#p/f/4/WTOWLlhdsDE
Vídeo documentário "Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!" - Parte 04: http://www.youtube.com/mulheresemmarcha#p/f/1/rVEtC_xY_8Y
Vídeo documentário "Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!" - Parte 05: http://www.youtube.com/mulheresemmarcha#p/f/3/n6tNor0dkDA
Vídeo documentário "Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!" - Parte 06: http://www.youtube.com/mulheresemmarcha#p/f/2/AfsSYUuVykQ

CONVOCATÓRIA

23 DE AGOSTO DE 2010

DIA DE SOLIDARIEDADE ÀS MULHERES E POVOS DA COLÔMBIA E DAS AMÉRICAS QUE LUTAM CONTRA A MILITARIZAÇÃO

Companheiras/os

Aproxima-se o Encontro Internacional de Mulheres e Povos das Américas contra a Militarização, que será realizado na Colômbia, entre os dias 16 e 23 de agosto de 2010. O Encontro se realiza em um palco de reposicionamento imperialista de Estados Unidos no continente, visível na ampliação da instalação de forças militares norte-americanas na Colômbia e Panamá; o golpe de estado em Profundidades; as ameaças de golpe no Paraguai; a ocupação militar do Haiti aproveitando o desastre natural, entre outros tantos exemplos.

Além disso, o encontro se desenvolve em um país cujo governo mantém uma história de 40 anos de cooperação militar com os Estados Unidos que - sob o sofisma da luta contra as drogas, o narcotráfico e o terrorismo que foi desculpa para a perseguição e estigmatização do protesto social - oculta os verdadeiros interesses econômicos por atrás do conflito na Colômbia: a manutenção do controle de seus recursos naturais, territórios e do povo.

Entre os dias 16 e 23 de agosto, mais de 1.000 mulheres e homens, militantes de organizações sociais, políticas, movimentos populares da América Latina e de todo o mundo estarão na Colômbia para verificar os efeitos da militarização em missões humanitárias em distintas regiões do país, construir uma agenda comum estratégica de trabalho conjunto, com ênfase nas bases militares e realizar uma vigília de protesto contra a militarização e a presença de forças militares estrangeiras no território.

Fazemos um chamado a todas as organizações sociais, políticas, movimentos populares da América Latina e de todo o mundo para que estejam alertas e organizem durante todo o período do encontro, mas em particular no dia 23 de agosto, uma jornada internacional de solidariedade às mulheres e povos da Colômbia e das Américas que lutam contra a militarização, com atividades de muitos formatos como, por exemplo:

-Vigílias ou atos em frente a consulados e representações da Colômbia ou dos Estados Unidos no dia 23 de agosto,

-Ações de rua com distribuição de panfletos em lugares de intenso movimento como praças, estações de ônibus, trens, metrô etc.,

-Pronunciamentos e vídeos de apoio aos povos da Colômbia e das Américas,

-Convocatórias aos parlamentares para exigir que os governos cortem despesas militares e a destinação desses recursos a serviços sociais e de geração de empregos e renda,

- Seminários, conferências, lançamentos de cartilhas e outros materiais, assim como mostras de cinema e vídeo e outros eventos culturais, com o objetivo de falar do Encontro e aumentar a consciência sobre o impacto da militarização na vida das mulheres e povos, denunciar os interesses de multinacionais, da indústria de armas e de governos de todo o mundo na manutenção de guerras e conflitos,

- Chamar aos meios de comunicação ou organizar coletivas de imprensa na semana 16 ao 23 de agosto para falar do encontro na Colômbia e da situação em que vivem as mulheres e povos em zonas de conflito,

- Pedimos que nos enviem por email informações completas das ações e eventos em preparação (tipo do evento e titulo, lugar, data,hora, contato do responsável). Sistematizaremos essas informações e as divulgaremos amplamente no site do Encontro (http://www.movimientos.org/encuentromujerespueblos/) e de nossos movimentos também.

Em solidariedade e luta!

Marcha Mundial das Mulheres

Via Campesina

Convergencia de los Movimientos y pueblos de las Américas -COMPA,

Consejo Mundial de la Paz – CMP

Mingade Resistencia Social y Comunitaria

Coordinador Nacional Agrario - CNA

Proceso de Comunidades Negras en Colombia - PCN

Corporación Compromiso

Unión Sindical Obrera- USO

Corporación Colombiana de Teatro

Movimiento Social de Mujeres contra la Guerra y por la Paz: Consejo Regional Indígena del Cauca, CRIC; Organización Femenina Popular, OFP ; Mujeres de Negro – OFP Colombia; Colectivo Policarpa Salavarrieta, La Pola; Cundinamarca; Proceso Nacional de Mujeres Campesinas – CIC-ANUCUR: (Federación de Mujeres Campesinas de Nariño, Asociación de Mujeres Campesinas de Pradera, Comité de Mujeres Campesinas de Caldas, Coordinación de Mujeres Campesinas de Atlántico, Coordinación de Mujeres Campesinas de Sucre); Equipos Cristianos de Acción por la Paz, ECAP; Resguardo Indígena Cariamomo, Caldas, Risaralda; Programa Mujer Indígena, CRIC; Pueblo Yanacona; Pueblo Totoroes; Pueblo Coconuco; Pueblo Nasa; Red de Mujeres de Tiquisio; Pueblo Siapirara; Pueblo Eperara; Resguardo Indígena Triunfo Cristal Páez; Asociación de Proyectos Alternativos Comunitarios, APAC; Asociación de Madres Comunitarias del Área Metropolitana de Bucaramanga; Asociación de Mujeres Productoras de Cárnicos, ASOMUPCAR; Comisión Interfranciscana de Justicia, Paz y Reverencia con la Creación; Hermanas Nuevas Esperanzas, Alianza Fraternal de Mujeres; Asociación de Mujeres Fe y Vida, AMUFEVI; Ciudadanos por la Paz; Hermanas de San Juan Evangelista, Pastoral Obrera Bogotá, Bucaramanga, Barrancabermeja; Movimiento Juvenil Quinto Mandamiento; Fundación de Apoyo y Consolidación Social para Desplazados por la Violencia en Colombia, FUNDESVIC; Colectivo Gioconda Belli y Colectivo El Aquelarre de Estudiantes de la Universidad Surcolombiana; Constituyente de Betulia, Santander; Red de Mujeres del Nororiente Colombiano de la Provincia García Rovira; Asociación de Madres Comunitarias de la Provincia García Rovira; Asociación de Madres Comunitarias de la Provincia Puerto Wilches; Asociación deMujeres Rurales por la Paz y el Progreso, San Gil; Emisoras Comunitarias Magdalena Medio; Pax Christi-Alemania; Asociación Municipal de Mujeres Campesinas de Lebrija, AMMUCALE; Asociación Santandereana de Servidores Públicos, ASTDEMP; Movimiento por la Defensa de los Derechos del Pueblo, MODEP;Siervas de San José, Bogotá; Liga Estudiantil Autónoma, LEA; Unidad SocialPopular, Girón; Colombia Support Network Madison,WI

APOIAM:

Mujeres de Negro de Valencia, España/ Mujeres de Negro de Sevilla, España/ Mujeres de Negro de Italia/Coalición No Bases Colombia/ONGD Atelier, España/Kairos, Canadá/ Diakonía Suecia/Civis Suecia/Heks Suiza/Colectivo Maloka, España/Taula Catalana per la Pau i els DDHH a Colòmbia - España/Fellowship of Reconciliation, FORColombia/Fondo para la No Violencia, Estados Unidos/Mujeres Católicas de Austria/Coordinación Colombia Europa Estados Unidos/Coordinación Colombia Europa Estados Unidos, Nodo Centro/ILSA/Comité Permanente para la Defensa de los Derechos Humanos/ANDAS/Sisma Mujer/Red Europea de Hermandad y Solidaridad con Colombia, REDHER/Asociación para la Promoción Social Alternativa, MINGA/Colectivo de Abogados José Alvear Restrepo/Comité deSolidaridad con los Presos Políticos/Corporación Sembrar/ Federación Agromineradel Sur de Bolívar, FEDEAGROMISBOL/Sindicato Nacional de Trabajadores de la Industria Alimentaria, SINALTRAINAL/Asamblea de Mujeres por la Paz y la Equidad de Géneros de la Asamblea Permanente de la Sociedad Civil por la Paz/Espacio deTrabajadores y Trabajadoras de Derechos Humanos de Barrancabermeja-Magdalena Medio/Foro Social del Magdalena Medio/Fundación Manuel Cepeda Vargas/Cátedra Libre Ignacio Martin Baró/Fellowship of Reconciliation, FOR Colombia MesaValenciana por los Derechos Humanos de las Mujeres en Colombia/Corporación Valenciana por los Derechos Humanos en Colombia.

Materiais de apoio à mobilização

- Material Gráfico (cartazes, adesivos)

- Multimídia (áudios, vídeos)

- Convocatória

- Edição da Voz dos Movimentos n. 45 / 2010, inclui entrevista com Claudia Castelhanos, advogada e militante do Movimento Social de Mulheres contra a Paz e a Guerra, da Colômbia, sobre a situação que vivem as mulheres nas zonas mais atingidas pelo conflito armado no país e os objetivos do Encontro Internacional de Mulheres e Povos das Américas contra a Militarização

- Página do encontro na internet: www.movimientos.org/encuentromujerespueblos


Para acabar com a impunidade em crimes de gênero


Revista Fórum, 26-07-2010

De acordo com Nalu Faria, da Marcha Mundial das Mulheres, o sistema judiciário brasileiro apresenta falhas graves em relação à plena execução da Lei Maria da Penha. Para ela, além dos entraves jurídicos, uma das maiores dificuldades para combater a violência de gênero é lutar contra a sua naturalização


Apesar de ter sido sancionada em 2006 pelo presidente da República, a Lei Maria da Penha ainda não consegue assegurar proteção plena às mulheres vítimas de violência. De acordo com a Unifem (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher), a nossa legislação de proteção ao sexo feminino está entre as três melhores do mundo, mas encontra obstáculos para ser executada. “Temos uma formação social que reforça o machismo, ainda vemos casos de mulheres que procuram as autoridades para denunciar e são tratadas como culpadas, como se elas tivessem ocasionado essas agressões”, argumenta Nalu Faria, da Marcha Mundial das Mulheres.Os casos de Eliza Samudio e Mércia Nakashima ganharam destaque por apresentarem elementos de forte potencial midiático. Mas, infelizmente, eles não são exceção na realidade brasileira. “Qualquer um pode procurar pelos homens que foram presos por matarem mulheres, e não vai achar nenhum. Eles podem até terem sido condenados, mas presos não”, sustenta Nalu. Confira a íntegra da entrevista com a ativista abaixo.


Fórum - De acordo com dados da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), as denúncias recebidas pela Central de Atendimento à Mulher aumentaram 49% entre 2008 e 2009. Como você enxerga esse aumento, apesar da promulgação da Lei Maria da Penha, em 2006?


Nalu Faria - Hoje a Lei Maria da Penha é muito conhecida e a Central de Atendimento à Mulher está mais atuante. Antes (da promulgação da lei) os casos de violência contra as mulheres eram mal notificados, mas agora isso está mudando porque as mulheres têm conhecimento dos seus direitos e se sentem mais encorajadas a denunciar. Sempre que há um grande número de denúncias de violência contra o sexo feminino vem a pergunta: será que aumentou a violência ou aumentaram as denúncias? Então, o aumento das denúncias quer dizer também que as mulheres estão mais informadas e conscientes dos seus direitos, pois sabem que a lei deve defendê-las.Outro dia vi na televisão, num desses programas policiais, um policial perguntando a um homem, que havia batido em sua esposa, se ele conhecia a Lei Maria da Penha. Isso demonstra que as autoridades conhecem a lei e a estão fazendo cumprir. Mesmo assim, ainda existe um trabalho de debate e reflexão com as autoridades sobre isso, juntamente com a sociedade.


Fórum - O Estado está preparado para aplicar a Lei Maria da Penha e a legislação de amparo à mulher?


Nalu – Completamente preparado, não. O Brasil é muito grande, e isso dificulta a disseminação de informações. Estaríamos preparados se o debate estivesse realmente implantado em todo país. Temos uma formação social que reforça o machismo, ainda vemos casos de mulheres que procuram as autoridades para denunciar e são tratadas como culpadas, como se elas tivessem ocasionado essas agressões. Sei de casos de mulheres irem à delegacia e ouvirem dos policias: "você deve ter feito alguma coisa pra ter apanhado".Temos que implantar o debate em todos os níveis da sociedade e do governo. No Poder Judiciário, por exemplo, os erros são visíveis. Muitas mulheres são assassinadas mesmo após pedirem proteção das autoridades. Por não reconhecerem a situação de desigualdade de gênero que existe no Brasil, muitos de nossos juízes questionam até mesmo a constitucionalidade da Lei Maria da Penha.


Fórum - Em relação ao machismo, como se pode trabalhar e mudar a mentalidade de homens que acreditam que a violência contra a mulher é algo normal?


Nalu - No que se refere ao poder do Estado, temos que acabar com a impunidade existente em relação a crimes contra mulheres no Brasil. Infelizmente, ela ainda é muito grande. Qualquer um pode procurar pelos homens que foram presos por matarem mulheres, e não vai achar nenhum. Eles podem até terem sido condenados, mas presos não. Então precisamos de medidas que rompam com a imunidade e criminalizem de vez este tipo de violência.Outro ponto é trabalhar no âmbito da prevenção. A violência não acontece de uma hora pra outra, ela passa por um processo de agravamento. Quando alguém sabe que a mulher está apanhando muito do marido, a violência não começou com esse espancamento. Ela começa na desqualificação da pessoa, até que um dia chega à agressão física. No caso do goleiro Bruno (do Flamengo), por exemplo, você vai ver que há um histórico de violência contra algumas mulheres que conheceu.As pesquisas confirmam: a cada 15 segundos uma mulher é assassinada no Brasil. Isso é algo inaceitável. E há uma naturalização tão grande da violência que as pessoas convivem com isso e não sabem como lidar. O debate deve desconstruir essa naturalização e despertar a consciência de que a violência é algo inaceitável.


Fórum - De 2006 pra cá, a partir da aprovação da Lei, quais os maiores avanços no combate à violência contra a mulher que o Brasil presenciou? Em que aspectos ainda precisamos melhorar?


Nalu - Um grande avanço é o aumento no número de denúncias. Com isso temos mais possibilidades de lidar com o problema e saber o que realmente está acontecendo. Outro bom sinal é o incremento das políticas públicas de atenção às mulheres. Isso é sinal de que para combater a violência tem-se que acabar com a desigualdade de gênero.A autonomia econômica das mulheres é outro ponto importante a ser trabalhado. Independência econômica perante o parceiro não é condição suficiente para que a mulher esteja livre da violência. Dados mostram que muitas mulheres falam que não se separam por conta da situação financeira, vinculada ao parceiro. O importante é que a mulher tenha uma autonomia pessoal e acredite que possa viver por contra própria. Essa questão é muito difícil de ser trabalhada, pois envolve um elemento subjetivo, enraizado em nossa cultura.Ainda precisamos nos antecipar ao tema da violência. Trabalhar a questão da autonomia pessoal é conscientizar as mulheres de que elas não podem ficar em uma posição submissa ao homem, onde precisam ceder sempre para agradá-lo, como se fosse a condição para uma relação harmoniosa. São essas atitudes de controle que terminam em violência.


Fórum - Em relação à exposição midiática do caso do goleiro Bruno, este fato pode fortalecer a luta em favor da erradicação da violência contra as mulheres?


Nalu - Isso vai depender do debate e da disputa que fizermos em relação a isso. Nesse caso, há elementos jurídicos que possibilitam a retomada de algumas decisões. Por exemplo, a demissão do Bruno, que pode não acontecer mais. Ou até mesmo o advogado dele, cogitando que a Eliza possa estar viva e esteja fazendo isso para se vingar dele. Se conseguirmos que as acusações sejam provadas, vira um caso exemplar positivamente. O Bruno confiava muito na impunidade, ele não tinha medo de ser preso. Temos que ter uma solução firme neste caso.


Fonte: Revista Fórum

Grupo de estudos encerra o primeiro livro


Carta à Ana Isabel Álvarez González e ao grupo de estudos "Em tempo de Feminismos" de São Paulo


O grupo de estudos de BH gostaria de agradecer a autora e as tradutoras do livro "As origens e a Comemoração do Dia Internacional das Mulheres" por nos ter dado a grande oportunidade de conhecer melhor a história de luta das mulheres. Já é sabido que não a encontraríamos com tantos detalhes nos livros convencionais.

Agradecemos por terem enchido nossas noites de terça-feira com a garra, a perseverança e a solidariedade dessas mulheres. Cada personagem vai ficar na nossa memória.


Sabemos que as dificuldades continuam, que o patriarcado e o capitalismo continuam a nos oprimir, mas temos certeza que as mulheres traçam os caminhos da transformação da história.


Fomos e somos sujeitas da luta política, pelas mais profundas mudanças na perversa ordem social


Mulheres de todos os tempos que constroem a solidariedade do mundo e superam seus limites.


Este livro foi delicioso!


Muito obrigada.


Clarisse, Cíntia, Dehonara, Gabriela, Maiara, Marcela,
Marisaura e Thaiane



Belo Horizonte, 20/07/2010.

Passeata do Dia Internacional da Mulher 1993 - Rio de Janeiro/Brasil





Acervo Memória e Movimentos Sociais
Fonte: http://www.memoriaemovimentossociais.com.br/

UMA VELHA HISTÓRIA


Alessandra Terribili


Nos anos 80, a luta contra a violência contribuiu para fortalecer e consolidar o feminismo no Brasil. As mortes de Ângela Diniz (1979) e de Eliane de Gramond (1981) por seus ex-maridos chocaram o Brasil. Eram mulheres que puseram fim a seus casamentos, e, além da brutalidade dos assassinatos, os dois casos envolviam pessoas conhecidas da opinião pública, o que lhes conferiu ainda mais “notoriedade”. "Quem ama não mata" era a resposta dada pelas feministas àqueles que sugeriam que os homens matavam “por amor”.

Mas não tardou a tentativa de transformar as vítimas em rés, “compreendendo” o criminoso, que teria “perdido a cabeça” por ação delas. Organizadas, as mulheres repudiaram o machismo que levou Ângela e Eliane à morte, e que, depois, buscou incessantemente justificar essas mortes com base na conduta das vítimas. A tal defesa da honra dos homens era reivindicada. O movimento de mulheres não se calou e colocou em questão as insígnias do "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher" ou a ideia de que "um tapinha não doi".

O tempo passou e, em 2000, a própria mídia foi pano de fundo para um crime análogo. A jornalista Sandra Gomide foi morta pelo ex-namorado, Pimenta Neves, então diretor de redação de O Estado de São Paulo. O assassinato aconteceu precisamente porque o namoro acabou. Por conta disso, ela sofreu agressões físicas e verbais, perdeu seu emprego, foi perseguida. Neves chegou a ameaçar de retaliações qualquer pessoa que oferecesse trabalho a Sandra. Pela mídia, a moça chegou a ser tratada como "aquela que namorou com o chefe para subir na vida".

Em 2008, outro episódio de violência contra mulher gerou comoção nacional. Eloá Pimentel, com seus 15 anos, praticamente foi assassinada ao vivo e em rede nacional pelo ex-namorado, que a sequestrou e a manteve em cativeiro por cinco dias. A agonia da menina foi acompanhada em tempo real, e ao se tornar a personagem central de uma história dramática, ela, como as já citadas, teve sua vida exposta e sua conduta julgada, apresentada como principal fundamento do comportamento agressivo de seu assassino.

Há poucos meses, a vítima foi Maria Islaine, cabelereira, morta pelo ex-marido diante de câmeras que ela mesma mandou instalar no salão onde trabalhava, julgando que essa atitude a protegeria da violência anunciada. Dias atrás, tivemos a infelicidade de testemunhar o advogado do assassino defendendo seu cliente com o bom e velho “ela provocou”, espaço oferecido por Ana Maria Braga.

Eliza e Mércia

Agora, a mídia tem apresentado as histórias de Eliza Samudio e de Mércia Nakashima como se fossem romances policiais. Convida-nos a acompanhar cada momento, provoca comoção, sugere respostas, vasculha a vida das mulheres mortas e as expõe a julgamento público, sem direito de defesa. A tragédia é exaustivamente explorada, e no final, a lição que fica é: elas procuraram.

Mércia morreu, aparentemente, porque rejeitou seu ex-namorado. Cometeu o desaconselhável equívoco de querer sua vida para si mesma, de não aceitar perseguições, sanções ou intimidações. Entretanto, tem-se falado em traição e ciúmes. E lá vem, de novo, a conversa fiada (e retrógrada) da defesa da honra. Mas é Mércia quem não está mais aqui para defender a sua.

De Eliza, disse-se de tudo: maria-chuteira, garota de programa, abusada, oportunista. Acontece que não importa. Não importa se ela foi garota de programa, se era advogada, modelo, atriz, estudante ou deputada. Ela está morta. Teria morrido qualquer que fosse sua profissão, qualquer que fosse sua atitude. E morreu, aparentemente, porque o pai de seu filho não queria arcar com as obrigações legais e éticas de tê-la engravidado.

Ela nunca vai poder se defender das acusações póstumas. Não vai ao “Superpop” defender sua versão ou sua história. Não vai estampar a capa de “Contigo”, acompanhada de frases de impacto entre aspas. Ela está morta, e o que ela fez ou deixou de fazer, pouco importa agora. E seria prudente, inclusive, evitar julgá-la pelo crime que a matou.

Mais uma vez, a história se repete. Mulheres são mortas por homens com quem se envolveram. Assassinos frios, esses homens tiraram a vida de mulheres confiando na impunidade, porque há quem os “compreenda”. A morte de Eliza e de Mércia parece ter sido calculada e premeditada. E mesmo assim, segue ecoando a ideia de que a culpa é delas, que elas procuraram, que elas provocaram. Assustador.

O espetáculo da violência

Infelizmente, histórias como as de Eliza, Mércia, Eloá, Maria, Sandra, Ângela e Eliane são muito mais comuns do que se imagina. E antes de culminar em assassinato, outras formas de violência foram praticadas contra cada uma delas, como acontece com muitas – as que morrem e as que se salvam.

A espetacularização promovida pela mídia, no entanto, faz parecer que são histórias ímpares e distantes do cotidiano da vida real. Como se o perigo não morasse ao lado, como se muitas não dormissem com o inimigo. Na sua família, na sua vizinhança, no seu local de trabalho, no seu círculo de amigos, certamente há casos de violência contra mulheres, e certamente você ouviu falar de pelo menos um deles. Em recente levantamento, a ONG Centro pelo Direito à Moradia contra Despejos apontou que uma mulher é agredida a cada 15 segundos no Brasil, e uma em cada quatro afirma já ter sofrido violência. Há que se considerar também que existem as que não afirmam – por medo ou vergonha.

Essas mulheres não são co-autoras de seu assassinato. É recorrente a trama montada para torná-las rés, para justificar suas mortes nas ações delas mesmas, para tolerar a violência. “Que sirvam de exemplo”, parece que dizem.

Num mundo em que a desigualdade entre mulheres e homens se expressa visivelmente desde na divisão das tarefas domésticas até no controle dos corpos delas pela Igreja ou pelo Estado, passando pela realidade de violência e pela discriminação no mercado de trabalho ou por serem tratadas como objetos descartáveis na rua e na TV; ninguém pode dizer que não sabia; nem fazer piadinhas que celebram os casos. São mulheres de carne e osso, não são personagens de novela.

Os criminosos são homens, esses que as mataram. E são cúmplices todos os que a toleram ou que buscam subterfúgios no comportamento da vítima para declará-la culpada por sua própria morte. São cúmplices silenciosos, igualmente, aqueles que fingem que machismo, discriminação e opressão são peças de ficção.

Fonte: http://terribili.blogspot.com/2010/07/uma-velha-historia.html